sexta-feira, 25 de março de 2011

Amsterdã/ Transtorno/ Um sinal

ATENÇÃO-As músicas separam o texto em três "capítulos", que foram inspirados justamente nelas. Portanto, ouvi-las enquanto lê-los deve lhe oferecer uma experiência mais completa.


Um avião cruzava o céu noturno. Lá dentro, a jovem jornalista Violet tentava se distrair com as músicas de seu MP3 Player, enquanto olhava pela janela. O brilho de determinada estrela pareceu aumentar enquanto ela olhava para ela. A aeromoça perguntou algo, e ela desviou seu olhar. Ao voltá-lo para a estrela o seu brilho diminuía, até que, diante dos seus olhos, ela sumiu. Perguntou-se se estaria ficando louca, se seria apenas um reflexo de alguma luz lá debaixo, ou se alguém mais havia visto o que ela vira.

Alguém mais vira. Um rapaz, sentado no capô de seu carro, olhava o céu distraído. Uma estrela se apagara diante de seus olhos e ele não estava nem aí. Pra ele, todas as estrelas haviam se apagado quando ela decidira morar no exterior.


 Phillip olhou em volta. Uma clareira cercada de montanhas, completamente protegida dos olhares exteriores. Ao longe, por sobre os picos, podia ver as luzes da cidade distante. A lua iluminava o gramado com uma tênue luz azul. Quantas vezes tinha vindo ali com ela? Há quanto tempo conhecia aquele lugar? Não sabia dizer. Sabia que se esforçasse, conseguiria arrancar de sua cabeça as memórias, mas naquele momento, somente um pensamento habitava sua cabeça.
Ela estava partindo. E o tempo estava do lado dela.
Era tarde para se prostrar de joelhos á porta da casa dela e pedir que ela não fosse. E ele não podia puxar o avião para baixo. Não podia parar o seu futuro brilhante. Ele não era mais um motivo de preocupação para ela.

Phillip passou pela porta do bar. Jogou-se num banco ao balcão e pediu uma cerveja. No alto de seus 25 anos, Phil, ou, como ela gostava de chamar, Phillie, tinha a cabeça mais vazia do que nunca. Os pensamentos que geralmente perturbavam-no haviam ido embora, porém a perturbação continuava.
-O que houve, rapaz? disse o bartender.-Você parece um morto-vivo.
"Eu sei, estou morto por fora. Mas por baixo, estou gritando."

De repente lhe veio a mente a lembrança de sua vida antes dela. Sentimentos e pensamentos que giravam como hélices de um helicóptero. E a sensação de aprisionamento. De estar numa prisão constante, preso a uma bola de ferro que não o deixava se mover. Preso numa armadilha feita por ele próprio. E ela veio e soltou-o. O pavor de voltar para aquela vida deixou uma sensação de enjôo na boca do seu estômago.
-Ei rapaz, anime-se. Nada como um dia após o outro.
"Você pode dizer o que quiser, mas não vai mudar nada." pensou Phil, pagando a conta e pegando a garrafa bebida pela metade, ao se levantar. "Tô no caminho de volta pra baixo."



"Eu poderia ter tentado impedi-la de ir. Pedido que ficasse. Implorado, chorado até que meus olhos secassem, feito greve de fome, qualquer coisa."
"Mas eu não poderia atrapalhar o futuro dela. Ela tem um caminho brilhante a trilhar."
"Mas o brilho do futuro dela implica que o meu perca o brilho até que se torne totalmente opaco. E isso não condiz com o que ela me dizia."
Os pensamentos já começavam a se enredar em sua cabeça como uma teia de aranha. E ele estava totalmente enrolado nela. Só de pensar em todas as coisas estúpidas que pensara em dizer, começava a passar mal. Afinal, quem era ele para querer qualquer tipo de controle sobre ela? "Só" o que ela chamva de "amor da vida dela". Encostou o carro, pois as lágrimas não lhe deixavam ver a estrada. Saiu do carro e gritou para o mundo, exteriorizando pela primeira vez tudo que sentia. Gritou, berrou, enfiou os dedos nos cabelos e agarrou-os e puxou-os até sentir as raízes de cada um se agarrando ao seu couro cabeludo. Socou o capô do carro, depois se levantou e jogou os braços para o alto. O céu continuava perfeitamente apagado. Pensamentos dardejavam pela sua cabeça como abelhas, não dando-lhe tempo para compreendê-los, apenas à angústia que eles lhe passavam.
"Eu poderia ter te pedido para ficar, não poderia?" ele gritou para o alto, imaginando, num acesso de loucura, se Violet poderia escutá-lo lá em cima, onde quer que estivesse. "Eu poderia ouvido meus impulsos egoístas e te implorado que ficasse! Mas eu calei meus sentimentos por você, não calei? Pensei comigo, eu tenho que ficar feliz com o sucesso dela! Eu tenho que me alegrar por ela estar alegre! Mas talvez" ele disse, baixando o tom e falando para si "talvez isso não seja amor. Talvez o amor seja egoísta. Talvez o amor fique feliz na verdade quando se consegue fazer a pessoa amada feliz. Mas eu nunca quis te causar transtornos."



Quilômetros acima, a jovem jornalista ainda olhava pela janela, com os fones de ouvido, sem prestar atenção a nada que acontecia á sua volta. Fechou os olhos e passou as mãos pelo rosto. "Phil, seu burro."
"Porquê? Porquê você não me pediu para ficar? Era tão difícil assim? Eu sou tão supérflua assim na sua vida? Era só pedir, Phil. Só pedir, e eu ficava. Mas você ficou em silêncio. Você não deu nenhum sinal que queria que eu ficasse. E eu ficava procurando possíveis desculpas, pensando coisas na linha de 'Ele não quer me prejudicar' que logo eram suprimidas por argumentos sensatos 'ele sempre foi impulsivo, não se seguraria, se fosse o caso'."
Violet mudou a música do iPod, embora não estivesse realmente prestando atenção a nada que era cantado. Sentia a cabeça, pela primeira vez, como Phil descrevia a dele: cheia de pensamentos que corriam pela sua cabeça como uma rajada de bolhas.
De repente a lembrança do dia fatídico lhe veio á mente. Os dois deitados, no gramado da clareira onde, haviam combinado, ergueriam uma casa onde viveriam, longe da cidade, em contato constante com a natureza. As mãos unidas, entrelaçadas, eles procuravam formas em nuvens.
-Coelho. Bem ali.
-Verdade. Ali tem um rei em cima de um cavalo.
-Nossa amor, quanta imaginação. Amor.
-Você acha uma nuvem em forma de amor e eu que sou imaginativo? Phil perguntou, mas não riu. Violet se sentara e olhava para ele.
-Amor, a gente tem que conversar.
Então ela contara para ele. Seus planos de fazer uma pós-graduação em Milão, escrever uma coluna semanal num blog famoso, enfim, crescer na carreira.
Phil se levantara. Provavelmente nunca contara com uma separação, que dirá uma daquele tamanho. Colocara as mãos na cabeça, se virara e adara um pouco para longe, os olhos fechados com força. Por fim se virou, falando com o tom mais seco que ela o vira usar em 5 anos de relacionamento.
-Tudo bem. Se é isso que você quer, vá em frente.
Só isso. Não a culpara, não jogara nada na cara dela, não levantara o tom de voz. E ela saiu dali mais machucada que teria saído caso ele tivesse feito isso tudo.
Agora ela estava ali. Dois meses depois. Num avião, a meio caminho do mundo. Tudo por que ele não falara.
Violet abriu os olhos e olhou em volta e tudo lhe lembrava o rosto de Phil. E, de alguma maneira estranha. O rosto em prantos de Phil. "De que adiantam essas lágrimas agora?" ela pensou. "Eu já estou longe, e estou indo para mais longe ainda. Você não falou nada quando podia."
Ele não falara, mas sentira.
Tudo ficou muito mais claro para ela naquele momento. Como se alguém tivesse tirado um véu negro da frente de seus olhos, e ela visse o mundo pela primeira vez. Ele não falara, mas sentira. Ele sentira. E ela não reparou que isso era o bastante. Violet enterrou o rosto nas mãos. A burra fora ela. Esperara uma chuva de prata quando o ouro cascateava ao seu redor. Phil era mais do que ela pensara que era, nesses anos todos. Era uma ilha a ser descoberta, e ela passara por ele, achara que era um continente.E agora não havia volta. Só lhe restava fechar os olhos e tentar dormir através das lágrimas, e sonhar que se arrastava de volta para os braços abertos de Phil e pedia-lhe perdão, e Phil lhe perdoava, e ela falava, gritava, berrava. "A verdade é que eu senti a sua falta!". Ela tinha que falar pra ela  estado em que se encontrava, o mais alto que pudesse.

-Eu senti a sua falta! Violet gritou, se levantando da cama. Olhou em volta e reconheceu o seu quarto. Um sonho. Tudo não passara de um pesadelo. Violet se deixou cair sobre o travesseiro sem crer, um alívio tão intenso tomando conta de seu peito que ela seria capaz de chorar de felicidade, mas não podia fazê-lo por causa da intensidade do que havia sonhado. Olhou para o lado e viu a silhueta de Phil, apoiado no vidro como se estivesse sem equilíbrio, nas mesmas roupas velhas em que havia adormecido ao seu lado. Chamou por ele suavemente, como se temesse que um tom de voz mais alto pudesse quebrar aquela imagem perfeita de felicidade que observava a chuva. Quando Phil se virou, bastou um olhar em seus olhos claros para ver que ele sonhara a mesma coisa que ela. Phil olhava-a com um olhar tão pesaroso, tão melancólico. Ele avançou e pegou em seu rosto suavemente, como se temesse que ela se esvanecesse em fumaça se tocada com mais violência que aquela. Então se curvou e beijou-a, carinhosamente, querendo por tudo no mundo que a sensação dos lábios dela contra os seus não sumisse jamais. Então afastou o rosto um pouco, de modo a olhá-la nos olhos, e pronunciou duas palavras que serviam como mil outras.
-Nunca mais.
Nunca mais se separar. Nunca mais deixar de falar o que pensa e o que sente. Nunca mais interpretar um ato do outro superficialmente. Nunca mais se separar.
Violet fez que sim com a cabeça.

5 comentários:

Anônimo disse...

lindo *-* /clara

Anônimo disse...

Luaaan!!! Chorei! Serio! Ta muito bom mesmo!

Beijos, Nath

Anônimo disse...

Liiiiiiiiiiiiiindo!

Anônimo disse...

Luan ta liindo vey, eu amei...(chorando)
beiijo Ingrid

Unknown disse...

Muito lindo! *-*