sábado, 14 de maio de 2011

O Gatilho

    A campainha tocou. Marcos foi atendê-la, transtornado. Recebeu o homem alto que batia, identificou-o como o hipnotizador com quem falara mais cedo e pediu-lhe que entrasse.
     "Ele está lá em cima. Não falou uma palavra desde o acidente."
     O homem assentiu, sombrio. Marcos o levou para cima. No caminho passaram pela entrada da cozinha, pela qual puderam ver um mulher sentada á mesa, a face enterrada nas mãos, parada como que petrificada. Se essa visão surtiu algum efeito no homem alto, ele não o demonstrou. Subiram as escadas e Marcos introduziu o homem a um quarto. Neste a luz estava apagada e um menininho de dez anos olhava a chuva, os ombros caídos. Um relâmpago passou pela janela e o trovão ribombou pelo quarto, mas o menino nem piscou.
    "Carlos" chamou Marcos "Você tem visita."
    O menininho virou sua cabeça lentamente para a porta. "Quem é?" Ele disse, numa voz que era um fiapo que arranhava por uma garganta tornada áspera, algumas horas atrás, por um pranto desesperado. Seus olhos muito pretos quase não brilhavam.
     "Um amigo" o homem alto disse, arrastando uma cadeira para a frente do menino e puxando um pêndulo do bolso do casaco.