quinta-feira, 10 de junho de 2010

Crônica: Injeção de cafeína.

     Maria pegou seu capuccino sem canela e sentou-se numa mesa perto da janela para saboreá-lo. Praticamente ao mesmo tempo um jovem rapaz sentou-se numa mesa do outro lado do corredor. Os dois trocaram olhares e sorrisos maliciosos, mas ela gostava de homens de pulso, e pulso era algo que Rodolfo não tinha. Enquanto comia seu croissant, Rodolfo atendeu um telefonema e deixou o telefone em cima da mesa quando se levantou para pagar a conta. No entanto, ele saiu do café e esqueceu o celular em cima da mesa. Maria viu ali uma chance de dar uma oportunidade de aproximação áquele jovem bonito, loiro de olhos azuis e terno. Levantou-se rapidamente, pagou sua conta, e correu atrás do rapaz, no entanto, ele não estava em nenhum lugar á vista. Ela vislumbrou o rosto dele num Corolla que passou na sua frente, então chamou um táxi e mandou o motorista seguir o outro carro á toda. Porém, duas esquinas depois, o Corolla passou um sinal que se fechou, parando o táxi. Maria saiu desesperada, pagando com uma nota de R$ 50 a corrida de R$ 7,50 por não ter trocados, e seguiu o carro por uma transversal. Que era uma ladeira. No percurso, um carro passou por uma poça em alta velocidade e molhou-na dos pés á cabeça. Ela viu o Corolla parando na frente de um prédio, e apertou o passo. Porém o telefone começou a tocar, e ela, no desespero, atendeu. Uma voz feminina respondeu ao seu "alô?":
     -Quem é? Ah, não precisa dizer! É a outra dele, aquele cachorro, mas isso não vai ficar barato!
     Maria não sabia direito o que ela mesmo pensava enquanto corria. Um chegou ao tal prédio, onde o homem saía do carro. Entregou-lhe o celular sem uma palavra. Sem nem responder ao seu "Hã, obrigado...". Agora, vendo de perto, ele não era tão bonito. Seu cabelo era desalinhado. Tinha espinhas. E uma barriga saliente. Maria voltou arrasada pra casa. Pro seu marido e filhos.

Um comentário:

Rafinha disse...

Olá!
Esse seu texto me lembrou os contos de Clarice Lispector, nos quais o protagonista, apesar de viver intensamente um momento, sempre volta pra seu velho mundinho acomodado. Te recomendo um conto dela chamado "Amor".
Parabéns pela (árdua) tentativa de traduzir em palavras alguns pensamentos.
Meu blog ta meio desatualizado (leia-se: última postagem em 2008), mas passe por lá...
Abraços
Rafa